7.2.08

Remoínho...


[...]
Tu, que te dizes Homem!
Tu, que te alfaiatas de modas
e, fazes cartazes dos fatos que vestes
p'ra que se não vejam as nódoas de baixo!
Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias,
as Políticas, as Artes e as Leis,
e outros quebra-cabeças de sala
e outros dramas de grande espectáculo...
Tu, que aperfeiçoas a arte de matar...
Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança
e o Caminho Marítimo da Índia
e as duas Américas,
e que levaste a chatisse a estas terras,
e que trouxeste de lá mais Chatos pràqui
e qu'inda por cima cantaste estes Feitos...
Tu, qu'inventaste a chatisse e o balão,
e que farto de te chateares no chão
te foste chatear no ar,
e qu'inda foste inventar os submarinos
pr'a te chateares também debaixo d'água...
Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas
e que nunca descobriste que eras bruto,
e que nunca inventaste a maneira de o não seres...
Tu consegues ser cada vez mais besta
e a este progresso chamas Civilização![...]

A Cena do Ódio
Almada Negreiros

2 Comments:

Blogger Alma Nova ® said...

Se queres que te diga, não sei bem se me apetece rir...se chorar...! Tal é a veracidade que aqui se encontra e o ridículo da raça humana, que jamais pára para se analisar e pensar!

3:40 da tarde  
Blogger Manuela Caeiro said...

Há sempre uns poetas lúcidos... mas quem gosta de acreditar neles?...

8:10 da tarde  

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